Edição #32 - A minha vizinha que canta no chuveiro
Eu tenho uma vizinha adolescente que canta no chuveiro. Diariamente. Ela entrega tudo em suas performances, pelo menos é o que eu sinto pela dramaticidade de sua voz, mas cantar bem, não canta não.
De vez em quando ela me presta um serviço sem saber, o papel que a playlist de hits do Spotify faz: me atualizar dos sucessos do momento.
Outro dia ela estava cantando “Like a Prayer”, provavelmente influenciada pelo show da Madonna na praia de Copacabana. Fiquei me perguntando se ela acaba de descobrir Madonna, ou se foi apenas um resgate motivado pelo grande evento.
A verdade é que “Like a Prayer” é uma ótima música. Madonna, para o terror dos católicos e mais conservadores, consegue juntar em uma só canção, Deus e sexo (e talvez a psicanálise explique um pouco). A canção tem um duplo sentido. Convenhamos que a conotação sexual tem muito mais destaque que a religiosa. Madonna está falando de sexo oral e orgasmo, com um coral no fundo (inclusive crianças), vozes angelicais e uma batida cativante. Ela está de joelhos e promete levar a pessoa ao paraíso. Amém.
Li uma matéria em que a Madonna explicava que a música é sobre uma jovem tão apaixonada por Deus que é quase como se ele fosse a figura masculina de sua vida. Acho que foi Lacan ou Freud que disse que a figura paterna pode ser uma representação de Deus. A pessoa de autoridade e proteção. Bom, dizem que os parceiros que buscamos se assemelham aos nossos pais. Fica aí a reflexão bizarra. Culpa católica, galera.
Acabo de lembrar do clipe de “Like a Prayer”. Muitas coisas. Por favor, vejam ou revejam o clipe. Vale cada segundo.
Voltando para a história da vizinha adolescente que canta no chuveiro. Só sei que em um impulso cantei junto com ela, e formamos um dueto. Brincadeira. Mas eu pensei em cantar com ela sim. Desisti, pois achei que poderia criar uma situação estranha. Depois me perguntei se ela presta atenção na letra, ou só se deixa levar pelo ritmo.
Não importa. A verdade é que acho que essa vizinha é animada. Quem canta, seus males espanta. Não julgo quem canta no banheiro porque a acústica é convidativa.
Bora cantar. Life is a mistery.
🤏🏼 Petit Viajando : Nunca nos conhecemos #03
Essa é a primeira vez que Lu sai de seu país, a primeira vez que viaja sozinha, e que está vendo o mundo com os próprios olhos. Decidiu os destinos, o roteiro e comprou as passagens. Está orgulhosa. Descobrindo novas cores, novos idiomas, novos cheiros e novos sabores. A primeira parada: Paris. Não conseguiu conter as lágrimas quando deu sua primeira mordida em um pain au chocolat, ou quando viu a Torre Eiffel, por mais clichê que seja. É bem diferente da TV e dos livros. Ela está completamente fascinada. Não só com o mundo que não conhecia, mas com a sensação de liberdade. É a primeira vez que faz algo para si, sem pensar em absolutamente mais nada, nem ninguém. É uma experiência de primeiras vezes. Lu fez uma promessa interna de que iria registrar cada segundo dessa viagem, e que a partir de agora viajaria até os últimos dias de sua vida. Em um primeiro momento sentiu uma culpa por estar se sentindo tão bem, tão livre, tão ela. É uma sensação de alívio. A verdade é que acaba de se divorciar. Mas logo depois que a culpa se apresenta, é tomada por um único pensamento: agora vou viver a vida que sempre quis. Antes tarde do que nunca. Antes tarde do que mais tarde.
De Boca no Mundo 🗣️🌎
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