Edição #34 - Máquina do Tempo
Uma pitada de crise existencial, com um fio de ficção científica
Bom, aparentemente, entrei em uma máquina do tempo, e fui parar em um lugar que já habitei. Sob a possibilidade de estar em um possível passado, quer dizer que escrevo do futuro? Não foi necessário reunir cientistas, físicos, ou até mesmo qualquer tipo de tecnologia. Acabei entrando nesse outro tempo que já existiu, e que pensei que tivesse ficado para trás, por livre, e espontânea pressão.
A grande diferença entre as duas experiências é que agora, vinda do futuro, tenho um certo poder, por saber o que acontece, e talvez ter a possibilidade de estar na posição quase como espectadora.
Confesso que é um lugar familiar, mas apesar da familiaridade, não é mais o mesmo lugar. É mais frio, vazio, com menos recursos e possibilidades. O que torna tudo mais melancólico. Mas, tenho a impressão, analisando friamente, que poderia ser pior. Cheguei a me armar com tudo que vi pela frente para me proteger (de que?). Era medo.
Enfim, não foi só o lugar que mudou. Eu mudei também e, não digo isso só porque tenho informações privilegiadas de um futuro, mas devo isso ao tempo também. O poder de ter visto e vivido me passam a sensação de liberdade. Não há pressão, cobrança, qualquer tipo de necessidade de provação, ou até mesmo expectativa. Acho que não há nada mais para se esperar ou esperançar.
Será que o passado quer me mandar uma mensagem? Seja ela qual for, que se manifeste de forma clara e de pronto, pois sei que em algum momento vou voltar para o futuro (que seria o meu presente?). Sei que esse passado me marcou e faz parte de mim. Talvez mais do que eu gostaria. E que, apesar de ter seguido em frente, segue se manifestando. De forma consciente e inconsciente.
🤏🏼 Petit Viajando : Nunca nos conhecemos #06
Inspirada por uma página que sigo há anos no Instagram, comecei a criar histórias para estranhos que foram fotografados por mim de forma aleatória ou consciente nos últimos 10 anos ou mais. Boas fotos, más fotos. Por que não?
Para Dante, o cannoli é como uma manhã gostosa de domingo. Traz paz, ilumina e preenche. Outro dia, ele se deu conta que talvez tenha aprendido tudo que sabe sobre o amor com cannoli. Seu avô Nico dizia: “É necessário paciência, delicadeza, atenção, dedicação, afeto e tesão. Sim, tesão. Sem tesão, não há cannoli que aguente”. A avó Sofia contava que o vovô Nico sabia exatamente qual cannoli deveria fazer para atender suas necessidades em diferentes ocasiões. Dependendo da situação era o cannoli siciliani tradicional que mais a agradava, para outra, um especial com um toque de canela e raspas de laranja, noites mal dormidas normalmente os de pistache resolviam, e para os dias de cólica, um caprichado com toque de cacau. O vovô Nico manifestava seu amor através de cannoli. O amor do dia a dia. É necessário observar para entender a necessidade do outro, ele dizia. A verdade é que Dante herdou o dom de compreender qual cannoli cada pessoa precisa, quase como uma prescrição médica. Em sua loja, conforme os clientes vão chegando, Dante vai decifrando os pedidos. Roberto vai sempre às terças e quartas, por volta de 8 da manhã, um dos primeiros clientes. Quando está com a sobrancelha esquerda mais franzida, certamente é o de pistache que ele precisa, combinado com um espresso doppio, e um brioche para viagem, por exemplo. Luca, quando chega levemente descabelado, mas com um sorriso no rosto, só precisa de um siciliani. Giulia. Bom, Giulia é complexa. Se ela respira fundo antes de pedir, é canela e raspas de laranjas, mas se ela força um sorriso para disfarçar algo que a está incomodando, é siciliani, com um cappuccino grande. Mas ela tem outros sorrisos também e para cada um deles têm um tipo de cannoli. É o amor do dia a dia. I cannoli you. Io cannoli te.
Foto: Roma, 2023.
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