E se, em um universo paralelo, tudo desse certo? Sabe aquele trabalho que você queria? É seu. O desejo de morar sozinha? Realizado. Aquele barzinho com os amigos? Ganhamos a melhor mesa, a comida não demora, e ainda está maravilhosa. A bebida veio gelada, o papo gostoso, e ainda aceita Sodexo. Aquele amor? Correspondido. A roupa da vitrine que curtiu? Veste perfeitamente e está com um desconto legal. Aquela receita de bolo? Deu super certo e ficou uma delícia. O domingo? Ensolarado, com o mar transparente. A academia está vazia. O supermercado não tem filas. As ruas não têm trânsito. O controle da TV não está funcionando, mas você tem pilhas reserva na gaveta (ah, a vida adulta). As pessoas estão sorrindo pra você na rua. O que acontece se tudo der certo? Eu acordo, provavelmente caindo da cama. Tá, não é assim também.
Será que o ser humano está preparado para uma vida assim? Sem grandes frustrações, motivos para reclamar. O quão assustador pode ser? Quando as coisas andam bem, fico desconfiada. Às vezes até fico esperando algo acontecer, ou duvidando do meu próprio bem-estar. Será que o bem-estar está maquiando algo que não está legal? Será que está tudo bem mesmo? Loucura.
O quão tediosa pode ser uma vida em que tudo está dando certo? Neste universo, empresários criaram um serviço de agendamento de problemas para que possamos nos distrair de vez em quando com um problema fictício. É tudo faz de conta. O número de doenças diminuiria, as clínicas de estética teriam menos clientes (ou até mesmo nenhum?), pois aparentemente estão com menos rugas. Reclamar caiu em desuso, não está em voga. Aproveitei esse momento para usar as palavras desuso e voga.
Nós conseguimos viver sem algum tipo de insatisfação, ou encontrar um defeito em algo, ou esperar pelo próximo tropeço?
É muito do ser humano buscar algo que não se tem e, às vezes, que não se pode ter. Parece que o ser humano vive muito mais para a falta. Talvez eu escreva mais sobre isso. E, há também, a questão da comparação. A comparação com pessoas que vivem outra realidade, tem outra prioridade, outro estilo de vida, mas mesmo assim nos vemos fazendo algum tipo de comparação que pode trazer insatisfação, tristeza e frustração.
Refletindo, acho que pessoas que verbalizam que tudo dá certo para elas e, neste caso, não estou falando de pessoas delirantes que perderam a noção da realidade, na verdade tem a capacidade de não dar tanto peso as coisas ruins, exaltar aquilo que dá certo, e abstrair o que dá errado. Sendo assim, aquilo que dá certo acaba se sobressaindo ao negativo e, no final das contas, o saldo tende a ser positivo.
Se tudo desse certo valorizaríamos aquilo que temos, conquistamos? Acho que talvez eu esteja caindo em outro assunto.
Talvez o segredo esteja no presente. Aproveitar enquanto as coisas estiverem dando certo. Quando algo der errado, a gente vê.
🤏🏼 Petit Viajando : Nunca nos conhecemos #07
Inspirada por uma página que sigo há anos no Instagram, comecei a criar histórias para estranhos que foram fotografados por mim de forma aleatória ou consciente nos últimos 10 anos ou mais. Boas fotos, más fotos. Por que não?
Tédio. Muito tédio. Sempre. Não tem uma fofoca interessante do alto. Muita gente tirando foto com pau de selfie, aquela breguice toda. Desde que estrelou um grande sucesso de um estúdio muito famoso - que Hugo prefere não mencionar - nunca mais foi chamado para nada. E, sem querer criticar, claro, todo mundo na época falou da riqueza de detalhes do desenho animado, mas sinceramente não faz jus. Culpa do filme também que agora todo mundo acha Hugo engraçado. Não é bem assim. Dias e dias, meus caros. Hugo adoraria fazer três pedidos ao Gênio do Aladdin. Um deles seria para poder ver outros lugares do alto. Talvez a Torre de Pisa, ou a Muralha da China. Mudança de ares. Seu segundo pedido seria ganhar uma massagem de pedras quentes. E o terceiro, por último, e não menos importante, provar batata frita, daquelas bem crocantes. Pensou que faria também um acordo com Úrsula para ganhar pernas, mesmo que ficasse sem voz. Abre mão do beijo do príncipe, e não precisa da cantoria toda. Ser um menino de verdade como Pinóquio? Talvez, mas essa história é tão down. Mais um dia do alto do Notre Dame.
Foto: Paris, 2015.
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