Edição #53 - Conversas Póstumas
Na edição de hoje: Um roda de conversa com mortos e uma nova história em “Nunca nos conhecemos”.
Perdeu a última edição? É só clicar aqui👇🏼
Lembrando que você pode acessar o conteúdo diretamente por e-mail (via assinatura sem ônus), no site, ou no app do Substack.
CONVERSAS PÓSTUMAS: Revirando túmulos, acessando a quinta dimensão e colocando palavras na boca de mortos.
⚠️ Disclaimer: Reforço que o “Conversas Póstumas” se trata de uma brincadeira e peço perdão antecipadamente a qualquer um que se sinta ofendido com a representação das personalidades. As respostas foram criadas com auxílio de IA.
MEDIADORA
— Sejam muito bem-vindos ao Roda Morta! Estamos aqui com Walt Disney, Marie Curie, Albert Einstein, Clarice Lispector, Salvador Dalí e Aj K'in da civilização maia.
(aplausos no fundo)
— É uma honra estar aqui e poder ouvir o que todos tem a dizer! Falo diretamente de 2025, e apesar de não terem vivido os últimos tempos, gostaria de saber o que vocês entendem como IA e de que forma acreditam que a IA tem impactado o mundo que vivemos e a sociedade como um todo? Quem gostaria de começar?
ALBERT EINSTEIN coça o bigode desalinhado
— Ah, inteligência artificial... Um termo que, em minha época, seria um paradoxo e uma provocação filosófica. A ideia de máquinas capazes de “raciocinar”... fascinante! Mas eu advertiria: inteligência não é apenas cálculo, é também imaginação, ética, incerteza.
— O universo é muito mais estranho e interconectado do que imaginávamos. Como a teoria da relatividade mostrou, há sempre limites para aquilo que conseguimos prever… A IA, pelo que entendo, está expandindo a capacidade de acessar e processar dados, muito além do que a nossa mente conseguiria alcançar, mas também está nos desafiando a redescobrir o que significa ser humano.
(olha para Walt Disney e ri)
— Acho que, no final, é a imaginação, sua especialidade, Walt, que ainda será nossa melhor arma.
WALT DISNEY ajusta o paletó e sorri
— Exatamente, Albert! Eu sempre acreditei que a imaginação é a nossa maior ferramenta. E, confesso, que sempre sonhei com um mundo onde a tecnologia criasse novas formas de contar histórias. A IA me parece uma ferramenta mais próxima desse sonho.
(pausa, mais sério)
— Mas me preocupa... A emoção que não se calcula, que não se programa...
ALBERT EINSTEIN levanta o dedo
— O conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abraça o mundo inteiro. A IA pode processar dados infinitamente melhor que nós, mas não pode sonhar.
CLARICE LISPECTOR olha para o vazio, como se falasse consigo mesma
— A inteligência artificial... um espelho, talvez. Um reflexo. Criamos máquinas que nos imitam... (sorri levemente)
— Não se trata do que a IA pode fazer com a arte, mas do que faz conosco: nos deixa menos nós, mais sós (olha ao redor).
— Talvez a angústia, a dúvida, a epifania.
DALÍ bate na mesa empolgado
— Exato! A IA é como fantasma, um espelho deformado da mente humana, mas a verdadeira arte vem daqui… (toca o coração). A verdadeira arte nasce do terror de existir. As máquinas não transpiram pesadelos, como relógios que derretem…rinocerontes.
CLARICE LISPECTOR respira fundo, e continua sua fala anterior
— Talvez a IA ofereça uma fuga da dor de ser genuinamente humano. Mas sem essa dor... perdemos nossa essência.
MARIE CURIE com a calma
— Senhoras e Senhores, vamos ser práticos, a inteligência artificial é, acima de tudo, um instrumento. Como o rádio, como a energia nuclear que estudei. Ela pode curar, pode destruir. Não tem intenção própria, mas amplifica as nossas.
ALBERT EINSTEIN pensativo
— Pode ela questionar suas próprias premissas como fazemos nós, cientistas?Minha preocupação é que confiemos tanto nessas máquinas que paremos de fazer as perguntas certas.
MARIE CURIE séria
— Confesso que me parece fascinante. Na ciência, imagino que a IA tem acelerado descobertas que, na minha época, levariam décadas, mas na política... vejo riscos: vigilância excessiva, manipulação de informações, desigualdade ampliada pelo acesso desigual à tecnologia (olha firme).
— Não devemos temer a inteligência artificial, mas sim a estupidez humana que a governa.
ALBERT EINSTEIN
— E se ela nos tornar preguiçosos intelectualmente... aí teremos um problema cósmico!
AJ K'IN voz profunda, cadenciada
— A inteligência artificial é para vós o que as estrelas eram para nós: uma tentativa de decifrar o mundo, de prever, de controlar.
(ergue a mão, como se desenhasse um calendário)
— Nós, maias, entendíamos o tempo como espiral, não como linha. O homem que cria a máquina que pensa... está criando também o seu próprio espelho cármico…Criaram um deus de números, mas deuses exigem sacrifícios.
DALÍ com o olhar teatral e os gestos amplos
— Bravo! Bravo, Aj K'in! A inteligência artificial é o surrealismo concretizado! É desejo, é delírio. O impossível tornado visível (pausa dramática). O importante é que provoque, que desestabilize.
CLARICE LISPECTOR melancólica
— Pode ser que a IA seja só mais uma forma da gente tentar se entender... e falhar gloriosamente.
AJ K'IN com tom sereno
— Vejo que a IA vos afasta da terra, da escuta do vento, do silêncio das plantas. Mas também vos ensina que sois parte de um sistema maior, interligado.
(olha para todos)
— A tecnologia não é má. É um prolongamento do vosso espírito. Mas sem equilíbrio, afasta-vos do ciclo da vida.
WALT DISNEY acena com a cabeça
— O desafio, como sempre, é usar a tecnologia como ferramenta de união e não de isolamento.
MEDIADORA aplaude junto com a platéia
Senhoras e senhores, que conversa incrível. Uma pena que estamos chegando ao fim, mas se pudessem deixar uma única mensagem para nós e gerações futuras sobre essa ferramenta, qual seria?
ALBERT EINSTEIN
— Nunca deixem que o cálculo substitua o espanto.
WALT DISNEY
— Não esqueçam de dar um coração ao que criarem.
CLARICE LISPECTOR
— Não se assustem com o vazio que ela revela. Habitem-no.
MARIE CURIE
— Usem-na para o bem, com ética e coragem.
AJ K'IN
— Lembrem-se do ciclo: tudo que criam, volta a vós.
DALÍ
— Não se esqueçam de sonhar... até mesmo com máquinas que sonham!
(aplausos)
(créditos sobem)
Nunca nos conhecemos #21
Histórias criadas para desconhecidos que fotografei aleatoriamente ou conscientemente nos últimos anos. Boas fotos, más fotos. Por que não?
Jia trabalhava como influenciadora e antes de chegar no destino de sua viagem, contratou o serviços de fotografia de Xin. No contrato, firmaram que ele a acompanharia nos 4 dias de viagem, e ao final entregaria todos os materiais combinados.
Quando se encontram pela primeira vez, descobriram que já se conheciam. Acontece que a tia de Xin era vizinha dos avós paternos de Jia e, quando crianças, por muitas vezes acabaram brincando juntos.
Na filosofia chinesa, encontros como esses podem ser chamados de yuanfen (緣分). Apesar de não ter uma tradução exata, o conceito seria algo maior que destino. É uma força que une pessoas que têm uma conexão predestinada, um vínculo que transcende o tempo e espaço.
Enquanto conversavam, descobriram que Xin nasceu no ano do Cavalo, um espírito livre, aventureiro, com natureza artística profunda. Jia é do ano do Tigre, corajosa, determinada, uma líder nata. A combinação Cavalo-Tigre é considerada uma das mais harmoniosas do zodíaco chinês. E, de fato, a convivência de 4 dias se multiplicou e permaneceu. Talvez não como vocês tenham imaginado.
Xin apresentou Jia para Huan, seu melhor amigo. E, hoje, Xin é padrinho de Chen, o filho do casal.
Na semana passada presenciei uma roda "semi-morta" na Bienal: Beth Goulart (relembrando seus tempos da peça "Simplesmente eu, Clarice Lispector") interpretando a Clarice e Conceição Evaristo debatendo as suas Macabéas, a de Clarice e a do novo livro da Conceição. Tanto na roda semi-morta quanto lendo seu texto, lembrei daquela entrevista do Chico Buarque que ele fala sobre o poder de intimidação e jeito enigmático dela e pensei: o que diabos ela acharia de interpretações póstumas dela? Eu chuto que amaria odiar ou odiaria amar.