Edição #47 - Velozes e furiosos na Itália
Feliz ano novo! 🚀
Na edição de hoje: Temos Viajando com uma história digna de cinema e Petit Viajando pra acalmar nosso coração no início do ano.
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Comunicado importante:
Querida pessoa leitora,
Entramos no segundo ano de “Viajando na Maionese”, com 47 edições produzidas e muitas histórias contadas, mais de 47 textos viajantes (ou não), 15 histórias de “Petit Viajando: Nunca nos Conhecemos”, e 5 tirinhas de “As Aventuras de Astra”. Desde o início de 2023, sem férias ou pausas, entregando quinzenalmente algo que estava em minha cabeça em algum momento do espaço e tempo. Por isso, informo que estou tirando férias!
Enquanto isso, deixo algumas das minhas edições favoritas, mas você pode conferir todas elas aqui:
Edição #02 - Maria Elisa
Edição #33 - A Pipoca do Sebastião
Edição #38 - A presença da ausência
Edição #40 - Do esquecimento ao pertencimento
Edição #42 - Livre pra voar
Edição 45 - A Beleza do 'The Florist Bar'
Nota: Essa história não foi aumentada para fins dramáticos. Tudo que se sucede é verdade, verdadeira.
Primavera européia, 2023.
Fim de uma viagem gostosa entre amigas, um clima melancólico de despedida. Lá estávamos nós, éramos cinco amigas no aeroporto internacional de Roma, mais conhecido como Fiumucino, e aquelas seriam as últimas horas de um grupo que vive distante fisicamente. Cada uma mora em uma parte do mundo.
Nossos voos de volta eram todos no final do dia e resolvemos aproveitar nossos últimos momentos tendo uma refeição decente e um bom papo. Papo vai, papo vem. Horas passando. E, a cada hora, eu dava aquela olhada na tela com as informações dos voos para checar a hora de embarque. As horas passavam e nada das informações atualizarem, ou as informações do voo aparecerem. Imaginei que poderia ser algum problema na comunicação do aeroporto. De qualquer forma, mais próximo do horário do voo, decidimos nos deslocar e começar as despedidas. Duas amigas foram ao banheiro. Enquanto isso, resolvi pegar meu bilhete. Foi neste momento que minha visão míope e astigmata capturou a informação: (CIA) Aeroporto de Roma Ciampino.
A minha alma saiu do meu corpo, a minha pressão foi no pé. Estávamos no horário de embarque e, para quem não sabe, mais de 30km separam os dois aeroportos. Para completar, estávamos no horário de pico, com um aeroporto lotado, em uma cidade enorme e caótica. A tristeza tomou conta do meu ser ao pensar que teria que comprar novas passagens. Informei as duas outras amigas com as forças que restavam que eu estava no aeroporto errado. Aliás, eu, e outra amiga, que pegaria o mesmo voo para Lisboa. Pelo menos não estava sozinha.
O caos foi instaurado. Enquanto uma amiga correu para buscar as meninas no banheiro, a outra corria para entender as possibilidades de transporte e soltava palavras gentis para me acalmar. Nenhuma opção parecia aceitável. A fila do táxi era interminável. De metrô, não chegaríamos a tempo. Ônibus não era uma possibilidade. Poderíamos tentar o Uber e mesmo assim chegaríamos no laço. Não tínhamos muitas opções e teríamos que arriscar. Tentamos pedir um Uber comum, mas ninguém aceitava a nossa corrida, então aceitamos o fato de que teríamos que tentar um Uber Black. Depois de alguns minutos, conseguimos finalmente um motorista. Agora só precisaríamos encontrar o ponto de encontro que o mapa mostrava. Tínhamos que encontrar o motorista em um ponto específico que não parecia muito longe da entrada do aeroporto.
O motorista parecia se aproximar, então nos despedimos correndo, sem a carga emocional que o momento pedia. Talvez tenha sido melhor assim.
Saímos correndo com as nossas mochilas nas costas e ficamos andando de um lado para o outro na esperança de nos aproximarmos do ponto de encontro que o GPS mostrava. Ninguém sabia nos informar onde ficava esse lugar. Foi então que avistamos um carro de polícia, ou melhor, POLIZIA. Usei todo o italiano que podia para pedir ajuda, mas a polícia não sabia informar. A sensação que tinha é que estávamos frenéticas falando mil palavras por segundo e a polícia nos olhava e se movia em câmera lenta não entendendo absolutamente nada que dizíamos. Grazie Mille.
Seguimos buscando o ponto de encontro até que parecíamos estar nos aproximando do local, enquanto nos comunicávamos com o motorista pelo chat do aplicativo. Estávamos nos desencontrando, mas de repente avistamos a placa informada no app. E, o carro, era nada mais, nada menos que um Porsche. Ok, carros como esse são muito mais comuns na Europa, porém um Uber?
Entramos no carro esbaforidas, as duas falando ao mesmo tempo palavras nonsenses e implorando ao motorista que nos ajudasse. Explicamos a situação, que precisávamos correr, pois iríamos perder o voo.
O motorista que era engraçadinho, sacaneou o nosso desespero, mas ao mesmo tempo nos respondeu em inglês, com a voz firme, mascando um chiclete e com um sotaque forte italiano, nos olhando pelo retrovisor:
Vocês não vão perder o voo. Não hoje, não agora, não comigo.
E pisou fundo no acelerador. É importante dizer que a minha amiga tem uma versão diferente e diz que a frase foi na verdade:
Vocês não vão morrer. Não hoje, não agora, não comigo.
Ele saiu costurando no trânsito caótico de Roma, quase batendo em todos os carros, em uma velocidade muito além do permitido. Eu e minha amiga clamamos por nossas vidas. Colocamos o cinto, fechamos os olhos, demos a mão. Nossas vidas passaram diante dos nossos olhos (que estavam fechados). Lembro de nós duas gritarmos de mãos dadas. Sei que virei para o motorista e disse: Moço, eu não quero morrer. Lembro de escrever para as outras amigas informando que talvez fôssemos morrer. E, ele, o nosso Dominc Toretto, só ria.
Quando nos aproximávamos do aeroporto, ele olha pelo retrovisor e diz:
- Eu não vou conseguir parar na frente porque está muito trânsito, mas vou parar próximo. Quando eu disser que é para descer, vocês desçam e saiam correndo.
E foi isso que aconteceu, abrimos a porta quando o motorista sinalizou e saímos correndo. Isso tudo para chegarmos no aeroporto e descobrir que o nosso voo estava atrasado. Chato, mas finalmente pudemos respirar novamente - e adicionar mais uma história para a coleção.
Nunca nos conhecemos #16
Histórias criadas para desconhecidos que fotografei aleatoriamente ou conscientemente nos últimos anos. Boas fotos, más fotos. Por que não?
Este é o exato momento, o registro dos segundos iniciais da primeira grande desilusão amorosa de Pedro até que a próxima aconteça. Já adianto que essa é uma história de amor não correspondido. Ficará registrado no hipocampo deste rapaz que no dia 10 de junho de 2024, ele comprou um simples buquê de rosas no quiosque do Sr. Marcos. Bem que gostaria de ter comprado algo maior, mas foi o que deu para comprar com o que sobrou do dinheiro que ganhou de aniversário. Pedro andou até a porta do colégio de Clara para que pudessem conversar. Ela saiu às 12h como de costume, Pedro entregou as flores, Clara sorriu educadamente, eles caminharam, conversaram e, infelizmente, as coisas não saíram como ele imaginava. Seguiram amigos, claro.
Ao se afogar de entendimento, o jovem escreveu em seu caderno:
Entender que talvez você não queira estar comigo da forma como quero estar com você. Entender que fazer parte de uma pequena parcela da sua vida é melhor do que não fazer. Entender que você vai cansar de mim, mesmo que eu não canse de você. Entender que eu sigo te querendo, mesmo torcendo para te esquecer.
Bom, um jovem romântico.
Mal sabe Pedro o que o espera pela frente e todas as reviravoltas que a vida dá. Uma coisa posso adiantar… Anos mais tarde, ele ainda se lembrará dos cinco sorrisos diferentes que ela tem, que a cor favorita de Clara é verde, que seus olhos são acastanhados normalmente, mas ficam esverdeados no sol, que ela ama bala 7 Belo, toma mate com limão sem adoçar, seu doce de leite é sempre sem ameixa e que ela fecha os olhos para dançar.